Daniel Defoe, mais conhecido como autor de Robinson Crusoé, em sua obra The True-born Englishman define a língua inglesa como “Your Roman-Saxon-Danish-Norman English”, ou seja, como uma língua que continha uma gama de vocábulos de origem diversa, obtidos através da invasão de vários povos em terras inglesas.
De fato, a escrita e a pronúncia da língua inglesa, como a conhecemos hoje, surgiu nos períodos mais remotos da história através das migrações e invasões germânicas, a conquista dos normandos, o surgimento da imprensa e o período Renascentista.
O Inglês Antigo ou Arcaico – Séculos V a XI
Durante o primeiro milênio a.c. (antes de Cristo), as terras britânicas eram habitadas pelos celtas, povo que dominava quase toda a Europa ocidental, em sucessivas ondas de migração. Os celtas não falam apenas uma língua, mas um conjunto de línguas célticas, e não eram nem mesmo considerados um grupo étnico único.
Há cerca de 2000 anos atrás, o general romano Júlio César, liderou duas expedições ao que foi chamado de Britânia, ou seja, a terra dos bretões, mas não permaneceram na região por muito tempo até que o imperador Claudius ordenou uma nova invasão que resultou em expansão das fronteiras ao norte e oeste.
Os romanos trouxeram algumas mudanças na paisagem inglesa criando vias e estradas pavimentadas (via strata). Em cidades como Lancaster, Leiscester, Chester e Manchester, o elemento final das palavras é derivado do vocábulo romano castra que significa campo. Entretanto, embora Britânia estivesse sob o jugo dos romanos por aproximadamente 400 anos, a ocupação romana deixou um parco legado linguístico.
A Britânia romana foi sempre alvo de ataques de “bárbaros” e a partir do século V, com a retirada dos romanos, teve que se defender sozinha. Nessa situação de emergência, os celtas pediram ajuda aos povos germânicos, os quais após expulsarem os inimigos dos celtas, voltaram suas armas contra seus hospedeiros.
Uma vez assentados, várias outras tribos germânicos adentraram ao país trazendo seus dialetos, sendo as principais os anglos, os saxões e os jutos. Esses povos não tinham uma identidade nacional entre si, mas conseguiam comunicar-se e tiveram grande influência na língua. Os vocábulos célticos não tiveram muita expressão na linguagem, permanecendo como nome de rios Avon e Thames e locais como Dover, Cardiff e London.
A Britânia Romana era basicamente cristã, enquanto que os povos germânicos eram pagãos, cujos deuses sobrevivem nas palavras que denominam os dias da semana tais como: Tuesday, Wednesday, Thursday e Friday. Em 596 o papa Gregório enviou um grupo de missionários liderado pelo monge Agostinho (posteriormente Santo Agostinho) de Canterbury para evangelizar os anglosaxões.
Esses missionários promoveram o letramento através desses povos, traduzindo o latim para a língua nativa. Em muitos casos, entretanto, era mais fácil emprestar os vocábulos direto do latim, e, consequentemente essa língua passou a se disseminar, especialmente palavras ligadas à religião.
Entretanto, cabe destacar, que os dialetos do inglês antigo, anteriores ao cristianismo eram línguas basicamente utilizadas para descrever fatos concretos e atender as necessidades de comunicação diária. Com o cristianismo, as palavras de origem greco-latina expandiram o vocabulário anglo-saxão na direção de conceitos abstratos.
No ano de 793, bárbaros invasores, conhecidos como Vikings adentraram as terras destruíram reinos e fizeram escravos. Em 250 anos de invasões escandinavas, podem-se distinguir três fases que envolveram ataques surpresa, colonização permanente e supremacia política.
Os Vikings falavam dialetos do Old Norse, uma língua que se assemelha ao dinamarquês, sueco e norueguês modernos; os Anglo-Saxões falavam o Old English (inglês antigo). Visto que ambas as linguagens tinham origem germânica muitas palavras eram semelhantes o que facilitou a comunicação entre os povos, embora a influência da língua escandinava na língua inglesa não tenha sido significativa.
Algumas alterações importantes ocorrem na língua no período do inglês antigo: primeiramente, o alfabeto germânico denominado runes (runas) foi “traduzido” para o latim, estabelecendo um novo código. Também, com o Old English, os substantivos declinaram e incorporam gênero (masculino, feminino e neutro), e os verbos são conjugados.
Curiosidade
Um marco da literatura inglesa no período do inglês antigo foi o poema heroico Beowulf, que permanece como único remanescente da família de línguas germânicas. De autoria desconhecida o poema foi escrito por volta do século VIII, contém 3182 linhas e faz um largo uso de metáforas. Do mesmo modo que outros poemas anglo-saxões esse poema, não faz uso de rimas, mas de aliterações, que consistem na ligação da primeira metade de cada verso com a segunda metade, através de sílabas de som similar. Conta a história de um jovem herói escandinavo chamado Beowulf, que, junto com catorze aventureiros segue para Dinamarca para lutar contra um monstro chamado Grendel que está devastando o país. Cinquenta anos depois, agora como rei de sua terra nativa, Beowulf luta contra um dragão que devastou seu povo. Tanto o dragão quanto o rei são feridos e morrem. Seus homens, então, jogam o dragão no mar e queimam o corpo de Beowulf em uma pira funerária.
O fim do inglês antigo
O período do Inglês Antigo é finalizado em 1066, com a batalha de Hastings, onde o duque William da Normadia, conhecido como William, o conquistador, derrotou o exército dos anglos -saxões, liderado pelo rei Harold, impondo suas leis e sua língua: a francesa.
Supõe-se que a conquista normanda significou a sujeição da língua inglesa à francesa, mas isso não aconteceu. Os autores Svartvik e Leech (2006) apontam três razões para esse fato. Primeiramente, porque o inglês predominava entre as pessoas mais simples do povo, que eram maioria. Além disso, embora o alto escalão da igreja ou do governo estivesse reservado para nativos da língua francesa, o número de franceses correspondia a apenas 5% do total da população. Finalmente, a ligação entre normandos na Inglaterra e na França, longo da ocupação, começou a enfraquecer, por razões políticas, e após três gerações de invasão francesa, os nobres franceses passaram a se identificar com a Inglaterra e com a língua inglesa.
RESUMO CRONOLÓGICO
•10.000 – 6.000 a.C. – Sítios arqueológicos evidenciam a presença do homem nas terras que encontravam-se ainda unidas ao continente europeu e que os romanos posteriormente viriam a denominar de Britannia.
•1.200 – 600 a.C. – Celtas se estabelecem na Europa e ilhas britânicas, marcando a partir daí sua presença na Europa por cerca de 8 séculos, antes de sua quase completa assimilação pelo Império Romano.
•55 e 54 a.C. – Primeiras incursões romanas de reconhecimento, sob o comando de Júlio César.
•44 A.D. – Legiões romanas, à época do Imperador Claudius, invadem e anexam a principal ilha britânica.
•50 A.D. – Os romanos fundam Londinium às margens do Tâmisa.
•410 A.D. – Legiões romanas se retiram das ilhas britânicas para defender Roma de ataques dos bárbaros.
•432 A.D. – St. Patrick inicia sua missão de cristianizar a Irlanda.
•450 – 550 A.D. – Tribos germânicas (anglos e saxões) se estabelecem na Britannia após a saída das legiões romanas.
Início do período Old English.
•500 – 1100 – Período que corresponde ao Old English.
•465 A.D. – Suposta data de nascimento do lendário Rei Artur.
•597 A.D. – Chegada de Santo Agostinho e seus missionários para converter os anglo-saxões ao cristianismo. Inicia o primeiro período de influência do latim na língua anglo-saxônica.
•600 A.D. – A Inglaterra encontra-se dividida em 7 reinos anglosaxões.
•787 – 1000 A.D. – Ataques escandinavos (Vikings).
•871 A.D. – Coroação do King Alfred, rei dos saxões do oeste, reconhecido como rei da Inglaterra após ter expulsado os Vikings.
•1066 – Batalha de Hastings, em que os franceses normandos, liderados por William, derrotam Harold, conquistando a Inglaterra e dando início a um período de 350 anos de forte influência do francês sobre o inglês.
•1066-1087 – Reinado de William I (William the Conqueror), primeiro rei normando.
•1087-1100 – Reinado de William II, filho de William I e segundo rei normando.
•1100-1135 – Reinado de Henry I, também filho de William I, o terceiro rei normando e o primeiro a ter uma esposa britânica (Mathilda of Scotland). É provável que Henry I tivesse algum domínio sobre o inglês, e foi em seu reinado que as diferenças entre as sociedades anglo-saxônica e normanda começaram a lentamente diminuir.
Fonte:
SCHÜTZ, RICARDO. História da Língua Inglesa. English Made in Brazil, in Cultura de Expressão Anglófona – Guia de Estudos. BONAMIN, C. Márcia (2012)
Disponível <http://www.sk.com.br/sk-enhis.html>. Acesso em 20/11/2011,
SUGESTÕES DE LEITURA
LEECH, G.N; SVARTVIK, J. English: One Tongue, Many Voices Palgrave Macmillan. 2006
Este compendio aborda, de forma abrangente, o surgimento da língua inglesa, seu desenvolvimento histórico e a disseminação do idioma, graças, especialmente, às conquistas da Inglaterra.
O’DRISCOLL J. Britain for Learners of English 2nd edition – Oxford University Press 2010
Este livro trata, a partir de uma proposta didática, de vários aspectos culturais pertencentes aos países do Reino Unido. Tradições, Esportes, Alimentação, Monarquia são alguns dos temas apresentados.